segunda-feira, 27 de junho de 2011

Porque me dói.

Edgar. Parece que já foi há muito, muito tempo. Como um sonho distante. Você fecha os olhos e está sobre uma cama com suas mãos quentes no rosto. Ele tem a pele macia, eu sinto, quando suas mãos tocam meu rosto, eis tudo o que sinto. A respiração é pausada, mas de um controle disfarçado ou conquistado a muito custo. Já não sei ao certo.

Com muito esforço eu me recordo. Ele diz feche os olhos, você os fecha. Sim, é como um sonho. Vejo como em um sonho, como em uma nuvem de fumaça de cigarro aceso, vejo que o quarto está vazio. Edgar e eu conversamos, aqui somos amigos, somos dois elos que nos ligam para deixar de ser, mas este conhecimento não nos pertence. Também nada mais nos pertence, simultaneamente aos dois, que este momento, em toda a vida. Nenhuma outra vivência, nenhuma outra palavra dita, porque este é o momento primeiro que deixou de existir após ter sido cumprido.

Com dificuldade retomo: deveria haver outras pessoas, sei que deveria, mas eis o quarto vazio, vazio também de nós dois. Destas pessoas já não sei, creio que saíram para o passeio da manhã, para algo que não me cabe.

O riso dele é suave ou é a luz amarela por sobre as coisas do quarto. Vamos, feche os olhos ele diz, repete até que se cumpra a sua vontade.

Fecho os olhos. Espero. É como um mar branco, como um grande lençol por sobre os olhos, como esse bloqueio mental que agora me abate. A memória me falha aqui.

Não há ninguém nesse quarto. Ninguém acende cigarros.