terça-feira, 31 de julho de 2012

sirius B.

Eu vinha colhendo esse mar de revoltas do passado, carregando o que sobrou de nós ainda nos traços do corpo que se modifica independente de que eu peça pra conservar os sabores dos contatos passados. Eu vinha cabisbaixa rua acima, escalando montanhas de distância de minha essência arredia, perdendo dentes em estado de graça, pedindo constantemente por um pouco de visão nesses teus olhos amedrontados.
esqueci aos poucos de que tua era a carne que ainda me conservava de pé, o rijo costume, o tato aguçado pra me retirar de novo das ruas imundas, por meios que ao lembrar hoje me estremecem os calcanhares.
Quanto mais eu penso nestas ruas como vias que guiem até o passado, mais claro fica o meio por onde recomeçar aquela velha luta encerrada repentinamente.

Você sabe, eu carreguei tanta coisa que não era minha que demorou para ver a luz de novo entre os vãos dos entulhos acumulados. Mas eu aqui sinto que floresço de novo, rumo ao que verdadeiramente me espera; menos alegre, porém menos densa, aceitando o porvir, com tanta cicatriz que fica difícil saber aonde dói menos, aonde você ainda pode tocar, e noto contente que quando começas a enxergar o ponto de partida, o nosso, o de todo mundo, ainda que esteja longe demais para ver a ponta dos portões iluminados daqui, aquela coisa que dá o riso pleno, começo finalmente a rumar pra casa...

segunda-feira, 23 de julho de 2012

eu vejo.

Tenho dois dos meus olhares voltados para ambos, enquanto no canto do restaurante se amontoam com seus cafés. Estes dois hoje são meus alicerces, mas me entristecem tanto.
Fico nessa paz vazia, nesse canto amuada, tecendo uma hora, um encontro, um papo perdido entre a hora de acordar e dormir. E as bebidas proibidas, e os cachimbos com a fumaça se perdendo no espaço-tempo, parados, extintos nas vontades impecáveis da juventude perdida dia-a-dia, e toda aquela familiaridade de doer no peito quando um deles olha para mim e vê a impossibilidade de me arrastar até onde estão, até a terra-do-nunca e a minha aflição se perdendo em fogo-de-brasa dentro daquilo que me toma sempre: a falta de percurso.
E eu canto solitária da minha janela oposta, eu peço venham falar comigo, eu digo baixinho, eu grito emudecida, eu extravio o que estou fazendo, joguei meus papéis ao vento.
 de repente é ela quem me avista.
Nos seus olhos eu perdi o foco, a palavra dita, precisei escrever pra retornar ao que fazia, mas esse nada-cada-vez-mais-vazio ainda vai me matar.

Esses romances, essas dádivas em visão, sim, visão, imagem, ilusão perpétua que me conduzem a um constante esquecimento do que vim fazer aqui nunca são nada além dessa tristeza de não os ter, possuir, membrana a membrana, célula-tronco do meu ser em expansão, estes amores são estas mesmas xícaras de café isoladas, estas que ao acabarem empoeiram-se fracamente como aquela velha mobília herdada na minha família.
 Então me digo todo dia, nesse espelho soturno batido, que mais um olhar na direção deles me matará subitamente. E é tão certo que algum dia hei de parar, de abandonar, de não mais adornar-lhes as feições com esse meu sorriso bobo. 
[...]
- Ah, eu jogando palavras ensaiadas não presto pra nada. É certo que parte do que vim fazer aqui é perder-me, ainda que sofregamente nos semblantes destes dois e eu já não digo nada.



quarta-feira, 18 de julho de 2012

sob a carne, a rosa

agora que quase não preciso usar palavras para me defender já que segues usando a boca e de outra maneira me tomas, levo esse pedaço que te toca que me esclarece bem no íntimo quando sem pronunciar o verbo tu te materializas ao meu lado, subitamente doce e incandecente, ao ponto de me deixar à flor da pele, rasgando de.
-
e espera, até que a porta feche para dizer o que dizes tão bem sem as habituais palavras. Mas os meus olhos continuam te saldando por debaixo da chuva, passo a cada passo, para dobrarem a esquina te levando comigo pra dentro do ônibus lotado.

- e o que era culpa virou fracasso tardemente mas se conteve numa hora e de súbito desabrochou em rosa,
essa que agora te dou, por sobre o lençol.