quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Esquecimento

Ela quer companhia para passar a noite: um jantar ou um vinho, conversa boa, sobremesa e olhar. Ele quer a companhia dela.
Não é segredo que ela poderia estar com qualquer um, mas antes só que mal acompanhada. Ainda assim, hei-la a dar voltas. 

Eles sabem que não se olham, entretanto. Não há equidade. Por isso ele pigarreia, embriagado. Ela, sóbria, olha a lua que estremece e pensa, viaja em pensamento. 

De repente teve dó de uma parte do mundo: aquela que poderia se assemelhar a ela, acompanhada e sozinha.

[...]
Um sonho ainda é muito pouco para dar cabo de tanta saudade.
Saudade.
Esquisito como a unicidade da palavra não conforta o nódulo seco na garganta.
É, é isso. Nenhuma outra palavra, nenhum outro sentimento. Saudade, como ela diz, pronunciado ao vento, assim com essa dor de atravessar o peito. Como poderia ouvi-la falar agora, desejosa e cálida, materializada ali ou em qualquer lugar verdejante. Saudade e rendição, exatamente como ela repetiria:

- Saudade e rendição.