quinta-feira, 6 de março de 2014

desencontro

Para Você. 

Há leitura que se lê branda e fluente, como há escrita que se derrama sobre o papel ou sobre a pele ou sobre a boca, naquele lençol, feito um mar de confissões.
Mas em março, durante a passagem dos alunos vistos pela janela, nada se escreve, nada se preenche, nem o quarto tampouco o papel, com as palavras que eu poderia dizer.
[...]
Ele repara no detalhe, o seu amor. Ouve atentamente enquanto respira.
Os lábios carnudos apertados - de não querer outra rendição que não o amor a eles - e os cabelos em cachos. Mas até quando? Não sabe ou finge não saber o quanto isso não mais lhe interessa. Talvez interesse, mas esse quebra-cabeças ficou complexo soturnamente e as mãos se apertam, ora tristes, ora trêmulas. Mãos que se entregam, que se amam, que são esquecidas. Não nos é permitido saber o porquê.

Ela permanece: escreve porque se não escrevesse não mais viveria.
Nos dias em que as rosas murcham, toma para si um bule de café e senta na varanda. Bebe alucinadamente e soluça. É verdade o que dizem por aí. O verão se afastou com a mesma velocidade com que marcou o seu início.

Ainda assim, nos dias fracamente iluminados, fica o perfume dela atrelado à roupa que usou na noite anterior, como uma rebeldia que sobressai à balança.