segunda-feira, 27 de outubro de 2014


Informado o resultado da eleição, um amigo meu veio dizendo "estou revoltado, esse bando de malandros ganhou novamente". 

- Opa, espere aí, meu amigo. Seu comentário é egoísta e equivocado. Eu tenho minha profissão e a exerço com toda a dedicação. Trabalho, inclusive, num regime sem direito a horas extras, e sem benefício OBRIGATÓRIO algum, lê-se vale-alimentação (este de livre adesão) e vale-transporte (este obrigatório). Estou longe de ser malandra!

A verdade é que o patrão Brasil afora acredita que está prestando um trabalho social nos empregando. A realidade é: aumenta-se a produtividade, o salário estagna, há reclamação pelos impostos que pagam (os que não conseguem sonegar), inclusive reclamam do aumento sindical. Apesar de progredir em nosso trabalho e cada vez cumprir um número maior de tarefas eficientemente, precisamos nos rastejar para conseguir um aumento por parte deles, que alegam que reajuste sindical já é aumento salarial. Aliás, muitas vezes o aumento sindical é o único que vai para a folha.

O meu mercado de atuação é praticamente ele todo assim atualmente – ao menos aqui no Vale do Itajaí. À propósito, Blumenau possui, comprovadamente, o menor índice de salários de toda a região.  Se o trabalhador não se submete, adquire um salário péssimo, muito abaixo da realidade do merecimento. Ou, pior, fica desempregado. Esse é o tipo de gente que manda e desmanda no Brasil alegando que gera empregos. Raríssimos são os que utilizam uma porcentagem irrisória de seus lucros em trabalhos sociais. É preciso, portanto, que o governo faça retornar uma parcela disso ao povo, que contribui para o capital do patrão de duas maneiras: primeiro como mão de obra, segundo, no papel de consumidor. À vista disso, muita observação antes de sair gritando “mudança”. É preciso embasar seu grito, antes de tudo.

Digo isso, pois o maior embate se deu entre os empresários/midiáticos e o PT. Há reclamação pela carga tributária - em sua maioria sonegada descaradamente. E também os esquemas da Petrobrás, que alimentaram a muitos partidos, não somente alguns petistas. Por parte dos demais, a reclamação se dá pela suposição de que os nordestinos são sustentados pelo Bolsa Família. 

 O meu voto foi de confiança de que entre Aécio e Dilma, certamente vale muito mais o social, sim. Aposto que por tão acirrada disputa, o desempenho melhorará, sim novamente. É verdade que escolhemos entre os piores, aliás, o que é melhor para o Brasil atualmente? Certamente não é o PSDB – vide histórico de administração anterior e projetos propostos (opa, que projetos mesmo?). 
A escolha foi acertada pelo retorno ao povo, essa é a ressalva. Quem não quer ajudar às famílias com o Bolsa Família é egoísta, a bem da verdade. Como diz uma amiga minha, estes mereciam passar 2 anos só com o dinheiro do programa para vivenciar a realidade de que é impossível ser sustentado com isso. 

Não os julgo de todo maus, mas minimamente desinformados. Eu mesma já passei esse discurso para frente, e corrijo-me em tempo. Inteirei-me do real valor do bolsa-família e sobre o que é realmente garantido com o programa: nesse caso milhares de crianças permanecem nas escolas. Os pais que forçavam os filhos a pedir esmolas no sinal, agora recebem ajuda para obrigatoriamente mantê-las nas escolas. Este é só um ponto de vista, há tantos outros! Mais crianças na escola: diminuição da taxa de criminalidade infantil. Quiçá na idade adulta. À propósito, é o acesso à educação que permitirá a esse jovem mudar a sua realidade mais tarde. Se eu tiver de pensar que estou sustentando a um nordestino - a um brasileiro de  qualquer região - que seja a este ser inocente em meio à ignorância circunstancial.

E não é só este o caso. Muitos podem não utilizar o bolsa-família, mas certamente fazem ou farão uso de algum programa social. PROUNI, PRONATEC, Ciência sem fronteiras, Minha Casa Minha Vida, Mais Médicos, FIES e por aí vai (há muitos programas bons, a população apenas não se informa antes de repetir o discurso midiático). Bando de malandros, nós trabalhadores que fazemos uso deles!
Aliás, nunca um governo esteve tão acessível ao povo quanto agora. Plebiscito, diálogo e concessão. A Dilma não é perfeita - como nunca houve ou haverá representante e partido perfeitos, mas concede e se permite à maioria (parcela que sempre foi resiliente sem a menor reflexão).

Ouvi de um colega de trabalho que votando em Dilma eu não poderia reclamar depois. Essa opinião, além de ditatorial é tão burra quanto o voto infundado dele no Aécio. Pois, claro, se eu participei democraticamente desse processo, este é o meu real ingresso para a participação no governo vigente. É o que me garante o direito de reclamar, debater, solicitar, participar efetivamente. Caso eu tivesse anulado o meu voto, aí eu deveria ficar de boca calada, pois se não fui eficaz na seleção como serei na hora da atuação? E com que direito?

Não sou partidária, mas avaliei bem os estilos de governo para não anular meu voto novamente. Sofri uma discriminação tremenda pela escolha feita, mas fico feliz de ter me posicionado. Os bons ficarão, os menos importantes se distanciarão pelas divergências - e não é que eu tenha preferido assim. Aceito que essa gente se vá, todavia.
Enfim, o meu amigo, que discriminou o meu voto e ao dos nordestinos, se calou a tempo e se comprometeu a reavaliar o posicionamento. Também pudera, como já confirmado anteriormente, não havia argumentação. Era apenas o eco do discurso midiático. 

A amizade permanece, a manipulação da mídia, não.

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É melhor se informar antes de repetir abobrinha da revista VEJA:


http://www.redebrasilatual.com.br/politica/eleicoes-2014/sem-internet-aecio-teria-vencido-eleicao-diz-sociologo-9159.html


Os 5 estados que mais recebem Bolsa Família 
Fonte: http://www.conversaafiada.com.br/economia/2014/10/07/campello-desmonta-o-preconceito-contra-o-bolsa/


-Bahia, 1,8 milhão;

- São Paulo, 1,2 milhão; (sim, o maior colégio eleitoral de Aécio é o segundo estado dependente do programa petista na escala dos 5 maiores beneficiados - Acorda, Brasil!).

- Pernambuco, 1,1; 

- Minas, 1,1;

- Ceará, 1,1)

Bolsa Família
http://www.economist.com/node/16690887

http://www.onu.org.br/programa-bolsa-familia-e-exemplo-de-erradicacao-de-pobreza-afirma-relatorio-da-onu/

http://brasil.elpais.com/brasil/2014/09/21/politica/1411323977_583913.html

Mais Médicos
http://jornalggn.com.br/noticia/mais-medicos-95-da-populacao-esta-satisfeita-e-85-diz-que-atendimento-melhorou-muito


Prouni
http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/83579/Gaspari-ProUni-%C3%A9-um-sucesso.htm

http://prouniportal.mec.gov.br/

Bolsistas do ProUni possuem melhores notas médias do Enade, aponta estudo
http://www.brasil.gov.br/educacao/2014/11/bolsistas-do-prouni-possuem-melhores-notas-medias-do-enade-aponta-estudo

Pronatec
http://www.epsjv.fiocruz.br/upload/doc/Pronatec-execucaoOfertantes-25-11-13_v3.pdf

http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2013/12/pronatec-trabalhador-e-assinado-em-brasilia

http://www.pronatec2014.com.br/

Brasil sem Miséria
http://www.brasilsemmiseria.gov.br/inclusao-produtiva/pronatec

Brasil Carinhoso e outros programas similares de assistência social
http://www.mds.gov.br/

Programas do Governo
http://www.programadogoverno.org/

Politize-se: torne-se original
http://blog.planalto.gov.br/

http://www2.planalto.gov.br/

http://www.catarse.me/pt/politize


quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Esquecimento

Ela quer companhia para passar a noite: um jantar ou um vinho, conversa boa, sobremesa e olhar. Ele quer a companhia dela.
Não é segredo que ela poderia estar com qualquer um, mas antes só que mal acompanhada. Ainda assim, hei-la a dar voltas. 

Eles sabem que não se olham, entretanto. Não há equidade. Por isso ele pigarreia, embriagado. Ela, sóbria, olha a lua que estremece e pensa, viaja em pensamento. 

De repente teve dó de uma parte do mundo: aquela que poderia se assemelhar a ela, acompanhada e sozinha.

[...]
Um sonho ainda é muito pouco para dar cabo de tanta saudade.
Saudade.
Esquisito como a unicidade da palavra não conforta o nódulo seco na garganta.
É, é isso. Nenhuma outra palavra, nenhum outro sentimento. Saudade, como ela diz, pronunciado ao vento, assim com essa dor de atravessar o peito. Como poderia ouvi-la falar agora, desejosa e cálida, materializada ali ou em qualquer lugar verdejante. Saudade e rendição, exatamente como ela repetiria:

- Saudade e rendição.

terça-feira, 24 de junho de 2014

mundo, mundo, vasto mundo, mais vasto é meu coração


É dia vinte e quatro
Quarto a quarto
cheiros de vastos campos, 
cidade, estrela, ardor

nem lívidos suspiros, 
em coro,
          de todas elas,
nem suposições errôneas do amor

Nada toca essa minha vã existência,
Que consuma toda a minha dor
e simplicidade 
          de cá existir







segunda-feira, 12 de maio de 2014

ODEIO

veio um golfinho do meio do mar roxo
veio sorrindo pra mim
hoje o sol veio vermelho como um rosto
vênus, diamante, jasmim
veio enfim o e-mail de alguém

veio a maior cornucópia de mulheres
todas mucosas pra mim
o mar se abriu pelo meio dos prazeres
dunas de ouro e marfim
foi assim, é assim, mas assim é demais também

odeio você, odeio você, odeio você
odeio

veio um garoto do arraial do cabo
belo como um serafim
forte e feliz feito um deus, feito um diabo
veio dizendo que sim
só eu, velho, sou feio e ninguém

veio e não veio quem eu desejaria
se dependesse de mim
são paulo em cheio nas luzes da bahia
tudo de bom e ruim
era o fim, é o fim, mas o fim é demais também

odeio você, odeio você, odeio você
odeio


{caetano veloso}

quarta-feira, 23 de abril de 2014

quinta-feira, 6 de março de 2014

desencontro

Para Você. 

Há leitura que se lê branda e fluente, como há escrita que se derrama sobre o papel ou sobre a pele ou sobre a boca, naquele lençol, feito um mar de confissões.
Mas em março, durante a passagem dos alunos vistos pela janela, nada se escreve, nada se preenche, nem o quarto tampouco o papel, com as palavras que eu poderia dizer.
[...]
Ele repara no detalhe, o seu amor. Ouve atentamente enquanto respira.
Os lábios carnudos apertados - de não querer outra rendição que não o amor a eles - e os cabelos em cachos. Mas até quando? Não sabe ou finge não saber o quanto isso não mais lhe interessa. Talvez interesse, mas esse quebra-cabeças ficou complexo soturnamente e as mãos se apertam, ora tristes, ora trêmulas. Mãos que se entregam, que se amam, que são esquecidas. Não nos é permitido saber o porquê.

Ela permanece: escreve porque se não escrevesse não mais viveria.
Nos dias em que as rosas murcham, toma para si um bule de café e senta na varanda. Bebe alucinadamente e soluça. É verdade o que dizem por aí. O verão se afastou com a mesma velocidade com que marcou o seu início.

Ainda assim, nos dias fracamente iluminados, fica o perfume dela atrelado à roupa que usou na noite anterior, como uma rebeldia que sobressai à balança.




sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

em nome do Rio

eu jurei que não entraria em outro triângulo amoroso novamente,
por que é que continuo caminhando nessa terra-de-ninguém?

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

I've been out on that open road

Eu estava no inverno de minha vida – e os homens que conheci pela estrada foram meu único verão. À noite caía no sono com visões de mim mesma dançando, rindo e chorando com eles. Três anos estando em uma turnê mundial sem fim e minhas memórias deles eram as únicas coisas que me sustentavam, e meus únicos momentos felizes de verdade. Eu era uma cantora, não muito popular, que uma vez teve sonhos de se tornar uma bela poeta – mas por uma infeliz série de eventos viu aqueles sonhos riscados e divididos como um milhão de estrelas no céu da noite, que desejei de novo e de novo – brilhantes e quebradas. Mas eu não me importava porque sabia que era necessário conseguir tudo que você sempre quis e então perder para saber o que liberdade realmente é.

Quando as pessoas que eu conhecia descobriram o que estive fazendo, como eu tinha vivido – me perguntaram o porquê. Mas não há utilidade em falar com pessoas que tem um lar. Eles sabem o que é procurar segurança em outras pessoas, já que lar é onde você descança sua cabeça.

Sempre fui uma garota incomum, minha mãe me disse que eu tinha uma alma de camaleão. Sem senso de moral apontando para o norte, sem personalidade fixa. Apenas uma indecisão interior tão extensa e tão ondulante quanto o oceano. E se eu disser que não planejei para que tudo fosse desse jeito, estaria mentindo – porque nasci para ser outra mulher. Pertenci a alguém – que pertenceu a todo mundo, quem não teve nada – que quis tudo com uma vontade por cada experiência e uma obsessão por liberdade que me aterrorizava a ponto de não poder sequer falar sobre – e me levou a um ponto de loucura onde tanto me deslumbrava quanto me deixava tonta.

Toda noite eu costumava rezar para que pudesse encontrar meu povo – e finalmente encontrei – na estrada aberta. Não tínhamos nada a perder, nada a ganhar, nada que desejávamos mais – exceto fazer de nossas vidas uma obra de arte.

VIVA RÁPIDO. MORRA JOVEM. SEJA SELVAGEM. E SE DIVIRTA

Eu acredito no país que a América costumava ser. Acredito na pessoa que quero me tornar, acredito na liberdade da Estrada aberta. E meu lema é o mesmo de sempre.
*Acredito na gentileza de estranhos. E quando estou em guerra comigo mesma – dirijo. Apenas dirijo.*

Quem é você? Você está em contato com todas as suas fantasias mais sombrias?
Você criou uma vida para si mesma onde é livre para experimentá-la?
Eu criei.
Sou maluca pra caramba. Mas sou livre.

- Lana Del Rey



quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Please sleep softly, leave me no room for doubt...

domingo, 5 de janeiro de 2014

à existência.

- Quase casei-me.
- Era o que queria?
- No princípio, sim. Havia convicção.
- Era o que queria a moça também?
- No princípio, não.
- Hum. Encontros e desencontros.
- Isso.
- E agora?
- Agora o quê?
- Como se sente?
(...)
- Sinto que não sinto mais nada. Eis o vazio.
- Sente vazio por tê-la perdido?
- Não é verdade, nunca a perdi. É que nunca nos encontramos. No amor raramente nos olhamos simultaneamente, de modo geral. Creio que aconteceu uma única vez, com outra pessoa. A esse fato dá-se a ideia da exclusividade, do sagrado, o amor único vivido. Todos os outros são subjugados por este acontecimento.
- Compreendo tudo. Concordo. Embora seja um erro. Basta encontrar quem esteja aberto para olhar enquanto olhas também. Reconheço, entretanto, a dificuldade dessa dança.
(...)
- Creio ter experimentado um relance desse encontro nos olhos de um novo alguém. Mas não é verdade, equivoco-me adestradamente.
- Gostaria que fosse?
- Gostaria que tivesse sido.
(...)
- Para livrar o primeiro amor da responsabilidade de ser único?
- Não sei. Sei que gostaria que nos tivesse sucedido. Senti-me tão próxima, como nunca antes. Mas a gente nunca sabe ao certo o que sente o outro. Pode ser que vagou longe, na lembrança de seu primeiro amor e não no meu olhar.
- Está profundamente magoada?
- Não sei. É o vazio. Talvez nunca suceda outra coisa que não o desencontro amoroso na minha vida.
- Não é verdade, há muito tempo ainda...
- É o que você diz.
- E você, o que diz?
- Não sei. Que  somos feitos de erros. Milhões deles. Nunca estaremos certos. Nunca.
(...)
- Nunca.