quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Vênus em Peixes

Image: Nicolas Lobos

 

Assumindo para mim que talvez leias estas palavras algum dia, sinto-me sozinha na curvatura da confissão que não devo fazer abertamente neste texto platônico. Assim, sorrateiramente e de forma muito velada, oculto o palpitar de um imenso oceano azul anil de ansiedade enquanto minhas pupilas se dilatam quando tu rompes o silêncio da sala, com teu vermelho-marte. Tua imagem muito frágil ainda fixada na frente dos olhos, fixada por uma extrema vontade da existência, devo insistir -  e o teu frêmito falseável, inventado pela minha mente, confrontam minha declaração racional todas as manhãs, como a persistência de um dia nublado no domingo. Será possível que a mente, sendo a primeira das esferas míticas existentes no universo que nos circunda, é mutável a tal ponto de que algum dia cheguemos a nos ver - tu a mim, como eu a ti - simultaneamente sob o fremir dos mesmos anseios? Pergunto-o ao quarto solitário no amanhecer e obscurecer do tempo eterno, mas ele, tal como tu, não me refuta.