terça-feira, 10 de outubro de 2017

Cansei



Cansei de ser eu mesmo
Me deixa ser você
A vida não perdoa
Quem quer se reescrever

Cansei dessa rotina
Já não ouço o mesmo som
Cansei desse negócio
De tentar ser bom

Cansei dos meus retratos
Da falsa sensação
De ter você por perto
Não seu coração

Não me olhe desse jeito
Retoque seu batom
A sua vaidade
Faz parecer tão bom

Cansei dos mesmos rostos
Dessa repetição
Me deixa ser o centro
Da sua distração

Cansei dos inquilinos
Da minha solidão
Olhar você dormir
Não é compensação

Cansei da velha ideia
De segurar você
A reta do inseguro
Acaba na TV

Me entregue este controle
Me entregue a alma então
Amor você parece
Disco arranhado em vão
Pura repetição

[Silva]

domingo, 1 de outubro de 2017

para começar de novo

Se eu retomar a escrita, será esta a minha terapia.
E no mundo não há outra forma de me encontrar comigo mesma que não desta escrita-confissão.
Aprendi com um grande amor que todos os sentimentos se encontram livres nas entrelinhas e senti sede disto como se tivesse percorrido todos os últimos anos em pleno deserto.

Escrevo da última vista que tenho desta janela. A última dentre as últimas, e a mais singular.
A mulher que foi engolida pela roda da vida se rende mais uma vez à impermanência.

As mudanças são gigantes embrutecidos, robustos, ignorantes ainda.
Mas há de nascer, é verdade, e tenho as estrelas no firmamento, aquela que emerge das águas de temporais.
Se a face ilumina o sabor do sal que escorre, e o pranto encobre a vista, mesmo assim, a bússola que se forma é a guia para a jornada dentro da mulher que escreve.

É preciso que se diga, som emudecido e eloquente:
- há de nascer, não sei quando, há de nascer aquilo que ainda resiste, sobrevivendo entre os escombros, esgueirando-se na direção do sol.