terça-feira, 27 de março de 2012

"eu, eu mesma. e a cabeça cheia de cabelos"



(...) espera.

Entra nesse elevador fantasiando uma nova saída:
todos os dias sorri, apesar dessa loucura transparecer um pouco mais, dia após dia. 
Esse sorriso que leva no rosto é para todos, além de onde se permite ir com essa subida inevitável, para todos os não presentes, digo.
Os demais, uns poucos, ali amuados no canto de trás, deles, sim, o cheiro ocre do trabalho diário, ah sim, o cheiro preenchendo aquele elevador e o sorriso dela. Louca, como só ela, de imaginar-se atravessando subitamente para um mundo desconhecido todas as manhãs; presa, segura, acorrentada à sorte de não estar ali emparedada com os outros, dissonante, esmiuçadamente posta de lado por sua própria clareza em não fazer parte. O contraponto.
Ao passo que o sorriso deles, embora lá muito são e controlado, feito de coisas corriqueiras,  murcha da penumbra dos fatos e ressalta deliberadamente o dela, que me olha, no reflexo onde todos se vêem e a ignoram completamente.

sexta-feira, 16 de março de 2012

I didn' t try to fix you: confissão/desabafo.


Esses meus olhos agora ardem tanto. Tenho febre e um milhão de fragmentos espalhados pelo chão. No meu quarto, quem me dera, encontrarei melhor refúgio entres os escombros das últimas deixas.  

Começo a conflitar nesses vestígios da véspera, perdendo as palavras certas para aquela hora tão errada. Não encontro, não acho, por meio dessa dúvida, uma afirmação só que me valha. Fui mesmo levando essa guerra com a força que já não tinha, que por hora me desespera o fato de nada mais esperar: fico eu cá com os botões a fazer contas de um dia que não acaba dentro da cabeça, essa que lateja e pesa e dói como só a dor de vir ao mundo outra vez.


Procuro. Procuro de novo uma ponta de metal, ferro ou alma que me venha rasgar de uma vez, porque tenho a impressão de que usei as palavras erradas para me colar de novo. 
Desculpa, meu bem, mas estou doente de você, doente de nós e não encontro vez pra ser quem sou sem te ouvir todos os dias desabando uma casa.

quinta-feira, 8 de março de 2012


não que eu não goste dessa dualidade toda mas não me mande flores, garota. Construa um belo jardim pra que eu não vá muito longe de ti nessas horas turbulentas.

terça-feira, 6 de março de 2012

texto de final de tarde.



maior ainda que a minha espera é esse cansaço circundando meus joelhos, e não reluto.
Não importa que tua fala resista ao encontrar os olhos meus, ainda adianto-me com o verbo pronunciado te dizendo que tudo o que há em mim segue seu curso lêntido e adiante.
Prefiri caminhar porque a lentidão com que falas o amor me sobe dos pés à cabeça, num frêmito que não posso de todo suportar. E ainda ouço, distintamente da tua, essa voz aqui por dentro, por sobre meus ombros, no canto da boca, como a mais pura de todas as verdades inventadas e continuo:

Antes tremia do eco dos teus frêmitos, por ora estremeço na curva silenciosa do caminho prolongado.

sexta-feira, 2 de março de 2012

de romantismo


Preciso de maiores palavras que te indiquem esse caminho até mim. Ficamos absortas cada uma na sua, e a vida da gente se distancia a cada nova sílaba inventada. Não quero deixar de seguir os teus passos, apesar do desgosto que me causam os saltos, de hora em hora, entre os graves e agudos do teu crescente desassossego, garota. Há por aí quem pense que me conquiste fácil, há por aí passos que já segui e reluto em voltar a seguir, para não me perder nessa via de mão única. Mas em mim há ainda esse abraço que é teu, esse aconchego-porto-seguro que quero te dar sem maiores explicações e sem fazer caso.

- aceita, vai, a minha mão nessas horas vagas sem fazer porra de pergunta nenhuma.

quinta-feira, 1 de março de 2012

moon



quase deixei passarem, os meus segredos anuviados, quando começaste a falar e minha boca grosseira foi só silêncio. Mas te trouxe até aqui e exigi que foste à beira do rio comigo porque é ali o meu lugar mais íntimo em toda a cidade. Tu não desceste à margem, teu corpo repousou no parapeito e então eu chorei por dentro sabendo que jamais me livrarei dessa lembrança. Mas é que eu tinha de te dizer, eu tinha de te mostrar esse ângulo que a lua me favorece através do teu corpo rígido cheio de donos e donas, e meu ofício foi te imaginar ali, para preencher o espaço vazio de você quando eu tive de voltar correndo para mais uma vida normal.


"As the lukewarm hands of the gods
Came down and gently picked my adrenalin pearls
Placed them in their mouths
And rinsed all the fear out
Nourished them with their saliva"





eu tento,




eu tento, mas não acredito que esses passos sejam tão vãos quanto esse meu sopro de cansaço. Inclinada a deixar toda essa algazarra para trás, e com o coração apertado mais do que esse nó na garganta, me esfarelo quando tua boca diz estas mesmas palavras todos os dias, essas mesmas discussões que nos deterioram. E é porque me sinto tão deslocada, é porque não durmo mais, eu, eu mesma e o meu egoísmo; intensa e humanamente falando: quase me esqueci de como é sonhar nesse último mês.