quarta-feira, 1 de setembro de 2010

cansaço químico.

Devido ao cansaço extremo deitam-se sobre a cama os corpos frágeis. Estão rendidos sem que seja necessário o uso da palavra, isso, rendidos em suas dores particulares, entregues aos lençóis vermelhos como na lembrança da menina, mas são poucas as vezes em que se encontram dessa forma agora. No quarto ela diz, gesticula:

- não sei se estou sendo você ou eu. Estou apavorada de ser quem estou sendo.
- provavelmente as duas coisas, uma coisa só.
- provavelmente sim.

Ele é impassível quando diz abrace-a. Mas não é isso, o instante não acontece. É que estamos esperando que algum conhecimento ou alguma ignorância nos ensine, quando sabemos através da obviedade das coisas que nada pode nos ensinar nesse quarto fechado. A verdade é que não há nada que transponha essa barreira de quem somos no instante em que nos deixamos para ser entre essas paredes cúmplices. Há uma aceitação, uma sentença muda que percorre os espaços vazios, e então mais nada se move nesse quarto, tudo está em seu devido lugar, com a exatidão da existência, nas linhas e contornos, os ângulos do quarto, você vê que os amantes são impedidos por causa dessa imobilidade brutal.

O que é que então estamos fazendo além de coexistir?

O mesmo silêncio.

[...] as duas coisas, uma coisa só.

4 comentários:

nydia bonetti disse...

sei deste cansaço... incríveis teus textos. estarei por aqui. abraço!

Edmar Souza Júnior disse...

Adorei o texto.
Parabéns!

Anônimo disse...

agradeço os elogios.
então seja bem vinda...

Ricardo Steil disse...

Saudades dos teus textos e da tua pessoa, abraços.