Escrevo um livro ao passo que enquanto escrevo, nada é realmente escrito. Está tudo aqui, na ponta dos dedos à espera do papel, mas como é difícil organizá-lo, como é substancial que toda essa pausa em não escrevê-lo regularmente é cada vez mais imprescindível para a existência desse livro. Paradoxalmente nada é escrito, novamente afirmo, nada é deixado no papel dias a fio.
Uma vez mais acendo um cigarro, eu que já havia deixado de lado o tabaco torno a tragar, fumando distraída procuro pelo café. Trôpega, vacilo entre os verbos e os cigarros acesos. Este rito já me transformou em subproduto do livro, já me tornei subjugada por essa estória que, dentro do tempo de acontecer, não acontece.
Mas torno a escrever e a fumar, quase sempre torno a fumar. Abandono a escrita. Ando a passos curtos nesse quarto que me aprisiona porque não tenho para onde levar um livro que não existe e que contraditoriamente me pesa nas mãos.
A impaciência me faz andar também pela cidade. Às vezes ando por essa cidade como se realmente não a conhecesse. Paro em becos desconhecidos, traço palavras nas paredes como se fosse dessa condição a vândala, a depredadora do patrimônio público, do livro que não acontece. É tudo poesia. Uma vez no quarto volto a escrever o livro, uma vez mais acendo um cigarro, nunca concluo um capítulo, às vezes não fumo o cigarro até acabá-lo, parece-me evidente que nunca concluí de fato uma frase de impacto na vida, tamanho o efeito que a ausência do livro me causa.
A impaciência me faz andar também pela cidade. Às vezes ando por essa cidade como se realmente não a conhecesse. Paro em becos desconhecidos, traço palavras nas paredes como se fosse dessa condição a vândala, a depredadora do patrimônio público, do livro que não acontece. É tudo poesia. Uma vez no quarto volto a escrever o livro, uma vez mais acendo um cigarro, nunca concluo um capítulo, às vezes não fumo o cigarro até acabá-lo, parece-me evidente que nunca concluí de fato uma frase de impacto na vida, tamanho o efeito que a ausência do livro me causa.
Por um tempo esqueço esse livro, essas palavras selecionadas, sem fazer conjeturas. Está mesmo um dia bonito aí do lado de fora, torno a sair, a andar a esmo como quem escreve sem ler o que está escrevendo. Então retomo a escrita sorrateiramente e o livro vai se tornando sólido nesse paralelo de não existir.
Frequentemente este ciclo se revive, estou à mercê do livro imaterial.
Vê? De algum modo já me tornei personagem desta narrativa.
6 comentários:
Perfeito!
abraços! também sou todouvidos.
Bela história!
De certa forma, tudo que não é material, seja este estado temporário ou não, sempre nos salta aos olhos, e, por vezes, nos absorve.
Você escreve bem. :)
escritora com lindos retratos! que grata fico ao saber que o blog extranoica foi de seu agrado. se puderes, tente vir neste sábado! a ideia é passar um linda tarde de sol entre o brechó, jardinzinho e amigos. bem-vinda, neste sábado ou outros dias!
achei linda a sua pseudo-angustia do vazio que é cheio, o nao escrever que escreve. lindo!
Adorei!!!
e que as conversas rendam mais estórias...
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