terça-feira, 18 de dezembro de 2012

La Couleur des mots


Se tens hoje este céu acinzentado te cobrindo como tenho os olhos meus, também sabes dize-los como digo eu : lembro-me desse rosto, dos finais de tarde refletidos nele, a luz que hoje nos falta nesse frio que sobressai.
Lembro-me agora perfeitamente de ter tomado estas mãos macias sob as minhas, de tê-las aquecido na margem do rio, de tê-las feito rosas de calor, de tê-las beijado e muito, e tantas vezes. Lembro-me do cheiro, é verdade, do cheiro que esse outono tinha e que impregnou a roupa que eu vestia.
Das palavras que não foram ditas também lembro, é delas que hoje falo, porque sua cor está esmorecendo e eu preciso pinta-las de novo, como uma verdade eterna.

Vou te dizer porque sempre te digo, mesmo não falando, te direi então que este meu mundo é todo teu, que também esta distância é tua, que tu estás acima destas coisas, destas pausas, destas indas e vindas. Digo-te de novo e sempre, som alto no vento, que é de ti que vem a poesia saindo dos meus lábios, que já eram tuas todas as minhas palavras antes de eu saber uni-las no papel, e que para mim elas sempre tiveram duas cores, como dois corpos de luz que destonam um ao outro quando insistem em ser dois, através de meios que hoje não te explico, mas que tu sabes bem e podes dize-lo à vontade por aí.
Escolhi hoje para ti esta manhã que é cinzenta, que representa a cor mais neutra entre nós nos tempos mais recentes, porque precisava te mostrar que ainda assim a estação é a mesma em mim, que ainda sinto as cores alternando entre esse cinza lá de fora e que tenho a mesma vontade por pinta-las nas paredes em ruas desconhecidas, que mesmo que insistas em passar por elas sem ver, já tens estas palavras guardadas como se eu as te tivesse entregue de antemão, porque agora te explicando mais uma vez, te digo que és toda a cor delas para mim.

5 comentários:

Ricardo Steil disse...

Michelle, você me fez chorar! Preciso dizer mais? Enorme abraço.

Anônimo disse...

Bonito texto!Tens uma grande emoção descrita neles(Nas palavras).Para quem escreveste?

Anônimo disse...

para o amor.

Anônimo disse...

Lembro-me de que costumava ir à sua casa todas as semanas, fizesse chuva ou sol, ensopada de suor após andar tamanha distância.
Eu tento não amar mais ninguém, cara amiga. Partiram-me ao meio, e é estranho que você não saiba que “no meu mundo / um troço qualquer morreu / num corte lento e profundo”. É tão estranho não poder te contar, menina, é tão estranho. Fico pensando agora como ou com quem ocupa as tardes claras que nos presenteiam os últimos dias, se sente falta das minhas graças infames e o que diria se soubesse das minhas dores. Acabaríamos rindo disso, mas você foi embora e divido minhas cruéis decepções com a escuridão do meu próprio quarto solitário. Volte e vamos fazer planos mais uma vez, ajude-me a sair deste lugar tenebroso. Será que ainda teria paciência para me ouvir? A inutilidade nos separou, levou este pedaço de mim e ninguém me conhece direito neste caco de mundo que me sobrou. Perguntam por que pareço triste e eu sei que você odiava todo esse tipo de pergunta irritante assim como eu, porque não parecemos tristes – nós nascemos assim.
Meti-me numa história esquisita que só você entenderia ou então faria sarcasmos com a minha cara e com minha tamanha estupidez. Deus, como sou estúpida!, Sou tão estúpida!, Sou tão criança!
Você entenderia essa minha mania tola de parecer sempre madura demais, sempre querendo tudo o que é maduro demais para quem carrega tamanha pouca idade e essa minha mania de chorar pelos cantos nos banheiros trancados e de rir na cara dos outros do que não tem graça para ninguém além de mim mesma. Agora, decoro e releio textos sem que você dê suas opiniões, estou sem os julgamentos dos livros que você lê e das viagens que faz.
Estaríamos zombando dos nossos próprios corações partidos ou simplesmente trocando silêncios sobre canecas de chá ou palavras um pouco amargas que para os outros soariam como brigas, mas que para nós soavam como música.
Aliás, você se lembra das músicas? Ainda ouço todas elas e acho que as ouvirei eternamente, até o meu leito final, menina. Até os últimos dias os sons das guitarras, e as canções delicadas, os gritos ferozes e as letras de almas tortas como as nossas. E mais uma vez: como sou tola! Rabiscando esse projeto de carta para alguém que não mais se importa...

Ass:Alguém.

João Maria Ludugero disse...

Adorei seu blog. Maravilhoso!
Já li e reli muitos textos. Voltarei, de certo,com mais tempo para melhor apreciá-lo.
Alegrias e saúde!
Abraços,
João,poeta.
Se quiser me seguir, vou adorar ter no meu blog seus coments.
Até mais! Já te sigo!