sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

incompleto.


é sim, é sim, deixa eu te dizer como estão as coisas aqui dentro com a tua saída. Toma um dos teus cigarros e acende para que eu fume contigo toda esta carteira antes que a noite acabe.

Parece que foi ontem, é, eu bem sei que tu bem sabes. Foi ontem que a gente sorriu brilhando lá fora, nossas bocas e nossos sorrisos, nossa cumplicidade surpresa, nosso abraço-refúgio. Mas essa voz marejada, esse olhar vacilante de agora na direção daquela cadeira que era tua, tão me deixando quase certa de que parece que já muito tempo passou desde que você se foi e deixou aquele lugar lá, vazio de você.

É, continuas lacerando, ainda que não de presenças puras, com os sorrisos matinais, os bom-dias estranhos, sonolentos e discretamente surpresos, mas continuas, vai.
Calma, segura firme esse cigarro entre os lábios. Não é chegada ainda a hora da mudez absoluta.
Quero te dizer agora, pra não dizer daqui a dez, quinze anos, quando nos esbarrarmos e nos estranharmos tanto.

Deixa eu te contar de novo.

Eu estava percorrendo com os olhos os locais aonde dispusemos todo aquele vento de novidade. Ali fora, onde sentamos tantas vezes, vez ou outra ainda senta lá a nossa imagem e fica reluzindo à luz do crepúsculo. Tanto que quando passo, me pergunto se há mais simplicidade do que aquelas cenas ali compartilhadas, tão bem enraizadas naquele banco que se entrega ao tempo.
Eu sei que na sorte de poder ainda te ver se distanciando, tomar esse rumo que é tão seu, deixei também o meu vento soprar pra outra direção, fechando aquela janela, abrindo outra porta-de-passeio. Nos momentos de calmaria ainda retorno ao banco e vejo teu corpo pequeno ali, divisando o rio, com teus enormes cabelos perfumando a cena, mas percebo que comecei a passar mais tempo longe dele tão logo notei que nossos últimos abraços ficaram marcados demais pra eu aceitar não te ver tão cedo de novo...


Nenhum comentário: