quarta-feira, 17 de junho de 2009

"Nessa noite"

eu sei, e só eu sei, você é a mais distante de todas as coisas que me cercam. Estava há pouco, quase aqui, mas só deixa teu cheiro no ar. Como uma vaga lembrança a qual me agarro desesperadamente. Nessa noite, eu poderia te dizer quão desolador é imaginar as ruas da cidade sem você, porque tudo está bem próximo disto essa noite. Poderia te falar que sinto tua falta em cada beco, jardim e semáforo fechado e confessar que , andando através deles sozinha, nada disso tem sentido pra mim. E que não sou só eu, são também os lugares que anseiam por ti. Eu sinto que eles sentem. É, fazes falta. Nós bem sabemos e desconhecemos o tamanho exato da saudade que sentimos de ti.

Que saudades, meu amor. Que saudades até de quando não te conhecia. De quando passava noites como esta, em claro, imaginando as tênues linhas do teu rosto a me acalmar o pensamento. Perdia detalhes, eu sei, mas como era bom me deixar divagar na lembrança que me causavas ao passar. Confesso-te que imaginava teu timbre de voz, teu sorriso, tua cara bonita olhando lá de fora pra mim, dentro do ônibus. E de longe assim, és a coisa da qual mais sinto falta nesse instante.

Nessa noite, enquanto parecemos ser tão diferentes e contrapostas, feito o vermelho e o verde, o yin e o yang, eu ainda poderia jurar que iria pra qualquer lugar do mundo com você, poderia nadar contra a maré, dar socos no ar só para ver se alguém mais sente essa dor delirante de não te ter por perto. Fazer de conta que só porque você não me ligou não significa que acabou aqui, porque tudo é sempre um começo. É, poderia tatuar no meu corpo que tudo é sempre um começo com você. Poderia fechar os olhos e sair caminhando até a velha ponte de ferro, trôpega e completamente perdida mas determinada; ou poderia ir sentar-me na beira do rio e enche-lo com minhas garrafas de recados pra você.

Poderia fabricar redemoinhos lá embaixo, sobre a superfície da água, com a força do meu pensamento, só para me lembrar exatamente do teu sorriso naquela sexta-feira azul. Poderia engolir minha mágoa numa boa e beijar tuas costas nuas, me imaginar lá no teu desenho tatuado, percorrer a curvatura do teu corpo e beijar tua nuca, exatamente como na primeira vez. Poderia cortar meu cabelo bem curto, usar um óculos fundo de garrafa e construir um telescópio sozinha com a ajuda de um livro de física quântica, tendo na cara o sorriso mais nerd do mundo, só para me sentir mais em você do que em mim. Poderia ainda construir pequenos trilhos de trem em meu quarto e desenhar tua forma andando sobre eles comigo.

Poderia te falar de como é voar e te ensinaria a faze-lo com a maior facilidade do mundo ( dar-te-ia minha mão enquanto isso). Poderia jurar de pés juntos que consigo falar alemão - essa língua tão gutural e estranha de se falar - e poderia dizer que te amo, em japonês; ou fechar meus olhos no ar e deixar que assim fosse um pra sempre no pensamento. Poderia tudo que quisesse, meu amor, menos me sentir mais próxima de você do que você me permitiria essa noite.

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