terça-feira, 18 de maio de 2010

de sonhos e pesadelos.



Quando amanhece, essa luz entrecortada pelas construções inacabadas ilumina este rosto diante do espelho. O movimento inexiste no quarto, a sobriedade é alcançada através dessa verdade congelada no filme de minha vida.
O quarto, submetido nesse caos em construção, o corpo que não se move, intacto, permanece. Lá fora, através das arestas, o crime é um fato. No mundo dos coadjuvantes, o desdém dos apaixonados, as casas por sobre as casas, o povo faminto desse lugarejo miserável é como um crime, como a morte que permanece.
Você permanece também como parte de uma lucidez intacta na memória dos meus dias. Mantém-se paralisado enquanto a fotografia acontece, intocável. Você acende um cigarro, palavras se constroem diante dos olhos e morrem pisoteadas por pquenas incertezas.
É porque preciso romper esta perfeição que lhe falo a primeira vez, digo para que abandone, esqueça dos silêncios destas paredes opressivas ou que então esqueça essa estória de amor. Você não me vê, você está absorvido como que por integridade, essa lealdade que reserva para si próprio. É porque você está entregue ao mesmo silêncio, porque simplesmente está entregue, que o instante nos acontece. É esse o momento de decidir o que fazer com o que foi feito ou não. Deixa-lo para que se torne ou deixe de se tornar parte importante no mundo das significações. Aos poucos você atinge esta perfeição de não saber nada, de não intentar sabe-lo. Você não me olha, diz:
- Com você, o que houve?
As palavras, como lhe caem bem, ditas por você têm maior peso. Respondo que foi isso, que é isso, esse silêncio soturno, esse vazio, foi isso que me despertou para essa vida paralela à sua, por causa do que você diz sem mover os lábios quando não os move, quando mantém esse olhar distante, evasivo. Digo que é culpa sua, explico.
Então você sorri quando me daria o contrário, você sorri, dá de ombros. Mesmo você já me esqueceu.

Nenhum comentário: