quarta-feira, 23 de novembro de 2011

de pequena.

uma fotografia.  Eles estão prestes a capturá-la, essa imagem que eu sou, tão pequena, tão à deriva, estes meus pezinhos usando os sapatinhos que me puseram, esse vestido branco impecável, essa longa fita em volta do pescoço.

Isto é o que vejo: todos chamam Michelle, olhe, Michelle aqui.

E eu só consigo mexer os dedos das mãos enquanto mantenho o rosto sisudo de um futuro próximo. sinto ainda essa leveza de quem não sabe que existe, sinto que colocaram esse cobertor por baixo dos meus pés, dizem que é para que eu não fique com frio, asseguram-me e beijam-me nas bochechas.
O atrito do beijo na face me incomoda, acho que torço um pouco a boca, mas mantenho estes olhos compenetrados.
Dizem então, como em respostas aos olhos, são dois lagos azuis profundos, o mundo há de os ver, serão sempre precisos, mesmo magoados.
Não me lembro de ter pensamento. Tenho dois anos. Dois anos. Não me é o bastante.
Tenho estas sensações, que antecedem ao pensamento, tenho uma vaga ideia do que é a vida, e mesmo assim tudo continua sendo um sonho distante...

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