La Couleur des mots
Se tens hoje este céu acinzentado te cobrindo como tenho os olhos meus, também sabes dize-los como digo eu : lembro-me desse rosto, dos finais de tarde refletidos nele, a luz que hoje nos falta nesse frio que sobressai.
Lembro-me agora perfeitamente de ter tomado estas mãos macias sob as minhas, de tê-las aquecido na margem do rio, de tê-las feito rosas de calor, de tê-las beijado e muito, e tantas vezes. Lembro-me do cheiro, é verdade, do cheiro que esse outono tinha e que impregnou a roupa que eu vestia.
Das palavras que não foram ditas também lembro, é delas que hoje falo, porque sua cor está esmorecendo e eu preciso pinta-las de novo, como uma verdade eterna.Vou te dizer porque sempre te digo, mesmo não falando, te direi então que este meu mundo é todo teu, que também esta distância é tua, que tu estás acima destas coisas, destas pausas, destas indas e vindas. Digo-te de novo e sempre, som alto no vento, que é de ti que vem a poesia saindo dos meus lábios, que já eram tuas todas as minhas palavras antes de eu saber uni-las no papel, e que para mim elas sempre tiveram duas cores, como dois corpos de luz que destonam um ao outro quando insistem em ser dois, através de meios que hoje não te explico, mas que tu sabes bem e podes dize-lo à vontade por aí.
Escolhi hoje para ti esta manhã que é cinzenta, que representa a cor mais neutra entre nós nos tempos mais recentes, porque precisava te mostrar que ainda assim a estação é a mesma em mim, que ainda sinto as cores alternando entre esse cinza lá de fora e que tenho a mesma vontade por pinta-las nas paredes em ruas desconhecidas, que mesmo que insistas em passar por elas sem ver, já tens estas palavras guardadas como se eu as te tivesse entregue de antemão, porque agora te explicando mais uma vez, te digo que és toda a cor delas para mim.