quinta-feira, 17 de junho de 2010

Em prosa poética te digo, Gigi


É preciso com muito esforço rir na cara do silêncio, fazer sala e devaneio, sair assim, de soslaio, entre um verbo e outro, para poder me libertar desse pó de coisa amontoada que foi se acumulando entre idas e vindas e depois voltar sem despedidas, dizer está tudo bem, que você saiba, está bem também, cara amiga.
Escrevo para você porque cansei repentinamente de tanto silêncio batido e de desamores nas entrelinhas. Encontrando-me entre as nuvens daquele dia, aquele não muito distante sobressalente de nossa rotina, quando o céu nos era de um vermelho-dourado estarrecedor tornando-me osso do ofício de ser, ver, sentir e fazer ver; sei que o que sobra está nas bordas, pela orla da vida, e nessa praia eu andei nua revestida de testemunhas. Tanto que você é uma delas.
Mas não quero dizer muito. Quero é não precisar explicar nada, porque o que ficou para trás já é como que livro morto, explica-se por si só, reduz-se a si mesmo tal qual é e você o vê. Com essa liberdade toda, você o vê.
Quero é que a minha opinião seja dita, que transpareça em mim essa vontade de momento, não a de ir longe, de parar, de não falar, de não ouvir, não. Quero é intentar nada, inventar a vontade do existir, esta sim, só esta concebível agora. Do resto há o resto, os resquícios amarelecendo-se por longo tempo de exposição à luz dos fatos, as noites mal dormidas, estes todos também senhorezinhos de si. Do resto há ainda o que advém do resto: estas incertezas certas de si, e os sorrisos ousados direcionados aos mesmos protagonistas do teatro dos vivos. Eis que aí me reconforto, é nessa hora mesma que se me escapa um sorriso, quando das tuas redescobertas, conto novas estórias...

7 comentários:

Edmar Souza Júnior disse...

Realmente fantástico, muito bem escrito, as palavras parecem vivas.

Parabéns...

Te adoro.

Anônimo disse...

as palavras são vivas, a ausência de algum nome fala do próprio nome, têm essa liberdade...

Unknown disse...

É a palavra que produz a melodia... que você quiser.
Desvenda-se pro si só.
amei o texto... todos os textos que li!

Ricardo Steil disse...

Nunca mais digo que você é Clarice Lispector, não mesmo. Você está anos-luz a frente dela. Ela não tem esta escrita crua, mas ao mesmo tempo sentimental. Ela não consegue fazer com que o seu "eu" lírico se distancie dela e aproxime-se do nosso próprio "eu". E mesmo que você fique chateada, que a ame como confessastes naquele sábado, enfim, continuo a bater na mesma tecla: Clarice... Clarice... quem é mesmo Clarice? Ah sim, é aquela menina que tem que ler Michelle para aprender a escrever um dia. Saudações literárias.

Anônimo disse...

ai. pecado. o.O
uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
pecado isso, heim?!

Ronald Augusto disse...

você permanece escrevendo grandes textos!

Ricardo Steil disse...

kkk pecado nada menina. Apenas sinceridade. Sabe o que é pecado mesmo? "Pecado é provocar desejo e depois renunciar", como dizia o saudoso Renato Russo. Escreves muuuuuuito bem, e sabes disso.