sexta-feira, 4 de junho de 2010

Sobre meus esforços por esquecer.

Está ali, diante dos meus olhos, está ali. Existe, permanece, é matéria ao alcance das mãos. Começo a pensar que é inapagável à medida em que insisto em esquecer. Vê, argumenta para que eu veja, respira esse ar gelado que invade nossos pulmões. Diz é difícil. Ainda negligencia? Esforço-me para ouvir ao passo que mantenho os olhos afastados para não gerar confusão na mesa. Digo isso, sim, é difícil.
Está também aqui, logo em frente, sobre a cama, nas paredes, onde houve meu toque sobre a superfície das coisas no quarto, onde deixei sem o querer o magnetismo desse meu ser que vive, os pensamentos que compõe a vida além da vida, acerca da vida.
Homens estrangeiros em cidades distantes, mulheres ainda moças a passear em praças de assexualidade, com tanta candura na cama, a minha vontade está longe de terminar esta noite. Sufoco, apago vestígios, descubro que memórias são inapagáveis mesmo com tanto ardor por esquecer. Depois acendo cigarros, sobretudo escrevo, caminho, escrevo novamente. Aos poucos esqueço, volto a lembrar.
Esses amantes me matam, pouco a pouco, com o desejo além do desejo, a vontade inominável que se estende além da morte. Poder-se-ia dizer que é o inevitável, este tipo de desfecho batido, e mesmo assim eu me veria presa à estas paixões terrestres, submetida a elas com esse mesmo livre arbítrio pulsante, a regalia que deuses épicos nos concederam em sua benevolência.
Entretanto essa regalia de os apagar, um a um, os amantes que me tomam em manhãs azuis, inexiste.

3 comentários:

Ronald Augusto disse...

como se não bastasse a qualidade dos textos, você ainda tem essas fotos excelentes, muito legal.

abraço

Anônimo disse...

puxa, muito agradecida. mesmo.

Unknown disse...

Este poderia ser o início do livro... passarás, certamente, de 4 páginas...