sábado, 17 de abril de 2010

Por um instante, mãe,

sim, por um instante acreditei poder viver nessa paz solitária por longo tempo, onde ter de buscar na solidez muda das paredes brancas companhia que não as lembranças amontoadas fosse motivo suficiente para começar uma manhã mergulhada nessa paz insana. Depois de desarrumar os armários arranjei desculpa pra me sentir eu construindo aquela cena; e mudar os móveis de lugar nessa busca da casa personificada só me fez encontrar tua voz tremendo na porta de entrada. Assim já vejo que meu refúgio flutuante está condenado a inexistência enquanto tomo mais um calmante e deixo o corpo pesar na cadeira.
Não é segredo que eu não goste de quem trazes contigo, que não resta lugar na minha alma que sirva de quarto-de-bagunças, que a qualquer instante, podendo ser agora ou daqui a um mês, carregarei comigo quem eu sou mundo afora, e que apesar de ter a liberdade entre as mãos e a vontade nos olhos da cara, ainda faria o mesmo se essa casa que ergui nesses meses todos fosse inteiramente minha.

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