quarta-feira, 22 de abril de 2009

"Borboletas aquarianas"



Letras maiúsculas num papel rasgado deixado de lado. Com marcas tênues de um sentimento forte. Que me arde. O cheiro arde como arde nas narinas o inverno.
Ouça o barulho dos papéis quebrando. Quando tu acendes o teu cigarro, pálida, leve, tão você que eu fui me viciando, tenho borboletas no estômago. É. E não é de todo ruim. Também pudera, de que me vale a vida se não estou lá? E os passos no chão, o que dizer destes? Pra quê serves, ó criatura humana, senão para serdes o melhor que podes ser? E as asas? Falemos delas: nós estamos aqui sobre a terra para aprender a ter asas.
Quando caminhava nada em mim deixava. E o sorriso tão opaco havia ficado, que quando o arrancaste de mim, atordoada e trêmula, esbocei o melhor que sabia fazer. E não sei o que em mim te convenceu de que ainda existo. Existo entre a luz cinza do céu azul claro. Mas eu havia me esquecido disto. É, tinha permanecido tanto tempo em mim, que me esqueci de voar.
Ora, sabeis que sou passarinho. Pois então, imagina-te um pássaro enferrujado. Assim o era, antes de ti. Diria até uma borboleta. Eu era. Ou sou. Não sei...
Mas se te perguntarem, e se puderes perceber, diga-lhe ao vento, esse meu amigo tão confidente de inúmeras horas vagas, qual das criaturas sou. E sejas tu meu céu. Ou voa comigo, se puderes.
Mas escreva-me algum dia. Não para mim nem por mim.
Escreva-me num papel amarrotado e deixe que o vento o carregue para longe.
Ou ainda, ponha-me amarrotada em uma garrafa e lança-me ao mar. Hei de caber, se for eu uma borboleta.
Mas, visto que já sou tão eu, não deves entregar-me a mais ninguém agora que já sou tão tua.

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